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Resumo
Partindo de importantes contribuições da geografia política crítica que apontam para articulações entre as representações geopolíticas e os filmes, analisamos três filmes que retratam a América Latina em um dos períodos mais conturbados da sua história: Pra Frente, Brasil (1982); Missing (1982); e La Historia Oficial (1985). Estes filmes, integrantes do chamado Cinema do Terceiro Mundo, retratam movimentos de resistência às ditaduras civil-militares instauradas entre os anos 1960 e 1980 no Brasil, no Chile e na Argentina, desvelando um imaginário antigeopolítico que se contrapõe ao discurso hegemônico. Para a análise proposta, consideramos duas ideias centrais: o imaginário projetado na produção fílmica é incorporado e incorpora a geopolítica e, por isso, os filmes podem ser considerados como eminentemente geográficos e geopolíticos. Como demonstrado por Power e Crampton (2005), ao capturar um discurso geopolítico, os filmes influenciam o apoio popular para estratégias geopolíticas dominantes, podendo funcionar como um dos aparatos ideológicos do Estado. Ao mesmo tempo, ao dar visibilidade a representações que ultrapassam as visões oficiais, podem influenciar mudanças nos discursos, no imaginário e, portanto, nos contextos geopolíticos (TUATHAIL, 1996). Neste sentido, de acordo com Geróid Ó Tuathail et al (1998), deve-se buscar nas antigeopolíticas possibilidades interpretativas que ultrapassem as representações oficiais. A antigeopolítia aborda a (des)construção de espaços de resistência, entendida esta última como a prerrogativa social de uma existência distinta da que presentemente experimenta a maioria dos segmentos sociais. (NOGUÉ, 2006, apud LIMA, 2013, p.156). Os filmes analisados, ao revelar manifestações de movimentos de resistência aos regimes ditatoriais instaurados em países da América Latina, podem ser considerados como representativos de uma antigeopolítica e, portanto, como um recurso visual e discursivo importante para que se possa decifrar o mundo através da desconstrução de discursos de poder institucionalizados e para a construção de outras visões políticas das relações socioespaciais. Tarefa essencial se desejamos caminhar na direção da proposição de uma educação geográfica que contribua para a afirmação do conhecimento escolar como um conhecimento poderoso (Young, 2008). Para tal, apoiados num ensaio de diálogo entre o proposto por Teodor Adorno (1995) quando à educação para emancipação, e as reflexões de Edgard Morin (2000) sobre a restauração da condição humana, analisamos o papel dos filmes como recurso didático que pode contribuir, de um lado, para a compreensão e superação de visões hegemônicas de mundo, justificadoras da situação de atraso social econômico e político, que têm dominado o imaginário latino-americano ao longo de décadas, e, de outro, para o reconhecimento de outras possibilidades de representação e de construção do mundo, dentre aquelas que apontam na direção do reconhecimento da importância e da força de sujeitos e de movimentos sociais de resistência. Certamente não temos respostas para todas as questões que emergem dos desafios e possibilidades a partir do uso de filmes para a formação escolar de cidadãos, mas nossa pesquisa tem nos ajudado a intuir hipóteses e a defender a ideia de que a educação geográfica guarda enorme potencial para a formação de cidadãos capazes de não apenas pensar geograficamente, mas principalmente de agir politicamente na direção da construção de uma sociedade mais justa. Acreditamos, ainda, que as conclusões construídas a partir da pesquisa realizada podem contribuir para a consolidação da geografia como uma disciplina, acadêmica e escolar, que possa colaborar para a desnaturalização do uso da força, da relativização dos direitos e ao desprezo do conhecimento (CASARA, 2018), e se evitar um retorno à "sociedade dos cotovelos", representada por episódios de descrédito na política e na democracia, ataques a minorias e outros.
Palavras-chave
Educação emancipadora, antigeopolítica, resistência, filmes, ditadura
Referências Bibliográficas
ADORNO, Theodor W. (1995) Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 4ª ed.
CASARA, Rubens. (2018) Sociedade Sem Lei. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
LIMA, Ivaldo G. (2013) A Geografia e o Resgate da Antigeopolítica. Espaço Aberto, PPGG-UFRJ, v.3, n.2, p.149-168.
MORIN, Edgar (2000) Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO. 2ª ed.
POWER, Marcus e CRAMPTON, Andrew (2005) Reel Geopolitics: cinemato-graphing political space. Geopolitics. p. 193-203.
TUATHAIL, GEARÓID Ó. (1996) Critical Geopolitics: the politics of writing global space. London: Routledge.
TUATHAIL, Geróid Ó., DALBY, Simon e ROUTLEDGE, Paul (eds) (1998) The Geopolitics Reader. Psychology Press.
YOUNG, Michael. (2008) Bringing Knowledge Back In: from social constructivism to social realism in the sociology of education. London: Routledge.
Neste trabalho, almejamos um aggiornamento teórico-metodológico da questão urbana. Para tanto, mobilizamos a geografia política crítica, com seus mais recentes aportes epistêmicos, propondo uma interpretação antigeopolítica do contexto dos fenômenos urbanos contemporâneos. Nesta fase do capitalismo orientada por uma economia de plataforma, abordamos a algoritmização da vida cotidiana como pano de fundo crucial no qual os aplicativos digitais se realizam territorialmente. Assim, as plataformas digitais que lhes correspondem tornam-se plataformas territoriais, de tal modo que, por conseguinte, se vislumbra uma gestão algorítmica do território. A complexidade dos processos dessa gestão territorial interpõe desafios éticos e políticos à decifração de uma geografia política da cidade diretamente vinculada à classe social composta por trabalhadores subalternizados e as injustiças territoriais a que são submetidos. Por seu turno, isso exige uma atualização dos aportes teórico-conceituais capazes de elucidar a problemática subjacente ao urbano do início do século XXI. A antigeopolítica – concebida como uma geopolítica de baixo para cima – garante um escopo interpretativo para essa atualização teórico-metodológica.
Os desdobramentos atuais do meio-técnico-científico informacional compelem, assim, a um esforço intelectual na direção de ajustes de epistemologias da teoria social crítica. Francesco Indovina questiona: “Nesta nova fase do capitalismo, em que se estão convertendo as cidades? Que evolução futura cabe imaginar para elas?”. O cinquentenário do livro A Questão Urbana nos serve de estímulo inicial para a recuperação do lastro sobre os problemas de investigação em sociologia urbana que Castells abordara. Seguindo a pegada do autor, passamos aos anos 1990 com o livro A Cidade Informacional e a tríade publicada sobre “a era da informação”, a saber: A Sociedade em Rede, O Poder da Identidade e Fim de Milênio, para dali extrairmos os fundamentos de uma análise sobre a revolução tecnológica da informação que reestrutura o capitalismo a partir da década de 1980 com o surgimento de um novo paradigma sociotécnico. Nesse rastro, abordamos a tríade informação – algoritmo – plataforma para decifrar a cidade informacional contemporânea marcada por uma psicosfera neoliberal e fascista entrecruzada com uma tecnosfera digital que fluidifica o território e precariza a vida dos trabalhadores.
Buscamos delinear algum contorno analítico que nos permita analisar o entrecruzamento de vetores sociotécnicos vinculados às redes globais com a realidade sociopolítica do Brasil atual. Com efeito, nos espaços urbanos produzem-se realidades emergentes à espera de uma decifração político-geográfica. Por conseguinte, elegemos o contexto metropolitano brasileiro para evidenciar a antigeopolítica inerente às realidades emergentes do capitalismo que algoritmiza o cotidiano dos trabalhadores. As falhas – fail ou glitch – do capitalismo nos orientam por um caminho acessório que nos conduz a ponderações críticas sobre a conjuntura político-ideológica do Brasil atual. Os traços do fascismo que atravessam a política nacional nos últimos anos ressoam em âmbitos sensíveis da sociabilidade, como o mundo do trabalho. Recuperamos as nuances da personalidade autoritária, para contextualizar os fascismos societais que assolam o País nos últimos governos federais de Michel Temer e Jair Bolsonaro, para entender a precarização do trabalho, sobretudo o trabalho urbano com suas mediações algorítmicas e a organização da sociedade civil.
Avançamos sobre o significado do movimento social que emerge dos ciclotrabalhadores das metrópoles. Trata-se do movimento de cidadãos que trabalham com base nos aplicativos digitais de entrega em domicílio – entregadores de aplicativos – e se insurgem contra à realidade que lhes impõe constrangimentos. A visibilidade dos corpos desses trabalhadores justifica o que denominamos de antigeopolítica – ou melhor, de questão urbana antigeopolítica - uma vez que os corpos são expressão imediata da consciência. O movimento social que analisamos é, antes de tudo, corpos em movimento. O horizonte da justiça territorial finda por balizar a atuação do movimento social dos “Entregadores Antifascistas”, liderado pelo trabalhador Paulo Galo, na cidade de São Paulo. Nossa questão central remete-se à tensão entre a algoritmização da vida cotidiana na metrópole, a precarização do mundo do trabalho e os movimentos sociais decorrentes. Analisamos essa questão definindo como objetivo geral identificar a antigeopolítica que desafia a economia de plataforma que precariza os trabalhadores, a política fascista que lhes oprime e da falha democrática que lhes vulnerabiliza. A resistência, contudo, é a força que reabilita a dignidade e a decência da sociedade.
Palavras-chave: Antigeopolítica; Movimento Social; Fascismo Societal; Economia de Plataforma; Justiça Territorial
RESUMEN: En el año de 1977 se creó la institución conocida como ONU-Hábitat, conformada por la Comisión y el Centro de las Naciones Unidas sobre los Asentamientos Humanos. Con este evento se cristalizó un proceso que llevaba tomando forma desde el fin de la Segunda guerra mundial, la configuración de un modelo para la gestión del ambiente, los territorios y las poblaciones, de características supuestamente universales. Desde entonces, esta institución se ha convertido en el centro neurálgico para el establecimiento de criterios, de estándares internacionales y de muchos supuestos en diversas materias, especialmente en la gestión urbana y regional, mismas que tienen una gran influencia en las políticas que se implementan por muchos países del mundo. Por tanto, han desempeñado un papel en las dinámicas (geo)políticas de las relaciones internacionales desde que surgieron, durante la coyuntura histórica de la Guerra Fría y el Tercermundismo (el conflicto Norte-Sur). Este trabajo se desmarca de las interpretaciones tradicionales sobre estos procesos históricos y organizaciones intergubernamentales, ya que busca visualizar el nexo entre la circulación de formas urbanas (intelectuales y espaciales, siguiendo a Lefebvre) y el constante mantenimiento de las relaciones de poder en la dinámica del sistema mundial. Se trae al frente una red de actores articulados en un mismo espacio de conflicto (una controversia histórica), se rastrean sus acciones por medio del lenguaje y las visiones de diversas disciplinas, que en conjunto permiten aprehender de manera matizada distintas formas de agencia de los actores involucrados, humanos y no-humanos, así como sus implicaciones generales, es decir, la acción conjunta que resulta de éstos actores ensamblados. La perspectiva histórica y la escala mundial de los procesos urbanos permanecen subordinadas a los cuestionamientos concentrados en la efectividad que tienen los gobiernos en implementar las políticas que las instituciones intergubernamentales recomiendan (ONU, FMI, BM), así como en evaluar los resultados de las mismas y llegar a conclusiones, a menudo similares, que parecen agotar la temática. Sin cuestionar las agendas subyacentes, tampoco cuestionan el paradigma de «desarrollo», pues dan por hecho que estos paradigmas establecen horizontes y mecanismos plausibles para un supuesto progreso. El discurso desarrollista se ha normalizado tanto, en parte, por sus fundamentos «científicos», que han dado lugar a toda clase de instrumentos, modelos y recetas para el desarrollo. Mismos que se han refinado y multiplicado en la historia de la política de los Asentamientos Humanos, a través de formas específicas de pensar, de hacer, y de organizar el espacio, particularmente a partir de las disposiciones tecnológicas que condicionan lo posible y lo imaginable. Una perspectiva crítica de estos procesos permite comprender por qué surgen, a qué intereses sirven y de qué agendas son parte, que integra sus dimensiones históricas, políticas y científicas, al tiempo que arroja luz a las problemáticas inherentes de la aplicación y funcionamiento de las políticas internacionales. Reconoce cómo estas políticas, saberes y técnicas forman parte de un aparato de escala mundial que hapermitido la gestión y el control de las poblaciones y los territorios «subdesarrollados». Y cómo surgió en el acenso de los Estados Unidos como nación hegemónica en el sistema mundial después de la Segunda guerra. En la posguerra, los problemas comenzaron a ser «más globales», no sólo porque los países formaban parte de una Comunidad Internacional que los vinculaba jurídicamente, sino porque las dinámicas del capitalismo mundial comenzaron a territorializarse de nuevas formas por el planeta (en parte, a través de dichos vínculos), siendo la urbanización una de sus características fundamentales. De la agenda del desarrollo impulsada por la ONU durante la coyuntura de los sesenta y setenta, surgieron un conjunto de normas y formas para gestionar y controlar los procesos espaciales de industrialización capitalista de características mundiales, y la influencia de EEUU fue fundamental, especialmente para América Latina. Si bien la transferencia de normas y formas comenzó a circular en el siglo XIX hacia la región, fue hasta la segunda mitad del XX que se consolidó un modelo y una política internacional integral, como parte del proyecto «modernizador» de EEUU y Occidente para «compartir» su desarrollo industrial, económico y científico con el Tercer Mundo. En el álgido clima político de la Guerra Fría y el Tercermundismo, las estructuras institucionales se robustecieron, y las estrategias de transferencia de desarrollo se intensificaron. La investigación rastrea discursos que construyen mundos, cómo se forman estructuras conceptuales que circulan por circuitos intelectuales, científicos, institucionales y gubernamentales a la par de innovaciones tecnológicas que abren nuevas posibilidades para productos y procesos que articulan esos discursos en una praxis, una disposición del experto-científico en el espacio, en los asentamientos humanos. La difusión de estos discursos a través de la ONU fue significativa, especialmente para la acción de los gobiernos tanto en legislaciones, estrategias de planificación y programas de entrenamiento de especialistas. Se aborda la manera en que la disciplina urbanística (y arquitectónica) tomaron como paradigmas a la ciencia, como forma de pensar, y la tecnología, como forma de hacer. Produciendo innovaciones que permearon de diversos modos en las disciplinas y en el desarrollo de tecnologías, crearon instrumentos para la gestión de los territorios y las poblaciones, así como formas (intelectuales y espaciales) de habitar que afectaron la dinámica del sistema mundial de asentamientos en conjunto. Dichos modelos asistieron en la transformación socio política y económica del sistema mundial, fueron, en parte, los medios para que un nuevo orden se territorializara por el mundo (el «neoliberalismo»), especialmente en los países del Tercer Mundo, donde más «se requerían» las políticas y los modelos de desarrollo. Se expone «el primer ladrillo» en la historia de ONU-Hábitat. El fundamento de un modelo desarrollista orientado a los asentamientos humanos que sigue en pie y tiene más influencia y alcance que nunca. Estas ideas son también la base del modelo de gestión urbana que se desplegaría posteriormente y que actualmente sigue condicionando la producción del espacio latinoamericano (Planificación Estratégica).
El 5 de septiembre de 2020 fue violentamente desalojada la okupa Rosa Nera (En la Canea, en el sur de Grecia), con el objetivo de construir otro hotel en la ciudad. Al arranque de la Rosa siguieron oleadas de manifestaciones de solidaridad y una inquietud generalizada en la ciudad de la Canea. Estas manifestaciones se transcribieron (también) en forma de demandas. Concretamente, tras el desalojo de la okupa emergieron seis demandas: el desacuerdo con la turistificación de la ciudad, la contraposición a la comercialización de los monumentos de la ciudad, la defensa de Rosa Nera como hogar de lucha, la mostración de la ausencia de espacios públicos en la ciudad, la oposición a la represión policial y la mostración de los resultados de la neoliberización de las universidades.
En esta presentación intentaremos abrir la demanda del espacio público desarrollado por el movimiento reivindicativo del cerro Kasteli. En su apertura esta demanda revela dos discursos diferentes: el discurso del carácter público del espacio y el discurso del espacio común. Estos discursos tienen diferentes perspectivas sobre la crisis y las implicaciones políticas que conllevan son enormes.
La corriente institucionalizada del movimiento se expresa bajo el discurso del carácter público del espacio. Aunque, de una manera, este discurso responde al peligro de hotelización, identificamos dos problemáticas: En primer lugar, es un discurso que coloca el espacio bajo el control del Estado o sus instituciones; considera el Estado como garante y regulador para la protección y explotación más eficiente de los recursos comunes, así como guardián de los derechos individuales (del ciudadano).
En segundo lugar, el discurso del carácter público no se opone a la acumulación primaria, y por eso propone una acumulación diferente a través del Estado y del Patrimonio Cultural. En este sentido, lee en el proceso de acumulación una debilidad del capital hotelero al cumplir con las condiciones de producción; por lo que se hace hincapié en un recurso alternativo (el patrimonio cultural) que pasa a proscenio con la crisis del primer proceso de acumulación (la hotelización).
El discurso del carácter público ve una “pelea” entre el capital turístico y el capital cultural. A través de esta mirada la crisis se presenta simplemente como crisis del capital turístico. Y el concepto del carácter público es, al final, un salvavidas del capital. Estamos efectivamente ante una crisis. Reconocer la crisis de acumulación bajo la mirada del carácter público significa reconocer la crisis desde el punto de vista del capital. Significa considerar la crisis como algo externo a nosotros (o en el mejor de los casos, el nosotros está mediado por las instituciones del Estado). ¡No es suficiente!
La otra cara del movimiento se expresa bajo el discurso del espacio común. A este respecto, la crisis de la acumulación capitalista en el cerro Kasteli es el resultado de nuestro propio hacer, es el resultado de la realización del espacio común en el cerro Kasteli (antes, durante las movilizaciones y después de la reokupación). Somos nosotros quienes causamos la crisis del capital.
El segundo discurso se expresa con el término espacio común o espacio autoorganizado. El discurso del espacio común nos permite enfatizar el sujeto colectivo y considerar la crisis como una consecuencia de la lucha colectiva. En este sentido, la crisis sería un momento en el que se cuestionan las relaciones sociales del capital, un momento de lucha.
Argumentaremos que el conflicto entre carácter público y espacio común que se revela con la apertura del discurso del espacio público, ilumina diferentes visiones de crisis, las cuales alumbran distintos conceptos de la lucha social. La realización del carácter público cercena el contenido de la lucha, la experiencia del espacio común abre las posibilidades a todo un abismo de caminos diferentes. Caminos más allá del capital.
Palabras claves: Rosa Nera, Crisis, Acumulación Primaria, Espacio Público, Espacio Común
Palavras-chave: cartografias da memória; resistência; lugares de memória; ditadura brasileira; justiça social
Resumo: O trabalho a ser apresentado traz os resultados parciais das reflexões, pesquisas e parcerias estabelecidas entre a História e a Geografia no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), através de dois projetos de pesquisa que discutem as cartografias da memória e resistência. O artigo apresenta os referenciais teóricos que guiaram o olhar sobre os contextos específicos e que conduziram aos primeiros resultados do projeto "Cartografias da memória e resistência à ditadura: gênero, raça e movimento estudantil" Partindo das análises de Caroline Bauer (2012 e 2017), a forma como a transição da ditadura para a democracia ocorreu no Brasil, a partir da Lei de Anistia (1979) impôs uma mudança formal no regime, mas não seu efetivo desmonte. A referida lei representou a possibilidade de manutenção de parte considerável do aparato repressivo, a não-responsabilização dos agentes da repressão e do Estado pela prática de tortura, além da negação das informações acerca de esclarecimento das circunstâncias das mortes e desaparecimentos forçados dos opositores da ditadura. O entulho autoritário decorrente desse processo inviabiliza até os dias de hoje a efetiva justiça de transição no Brasil. Segundo Flávia Piovesan (2010), no entendimento dos organismos internacionais de observância dos direitos humanos a respeito da proteção à dignidade humana nas sociedades com passado ditatorial, a Justiça de Transição é primordial para a garantia da consolidação de instituições democráticas. Diante disso, vê-se com clareza o entrave que a sociedade brasileira, em especial os grupos subalternizados - população negra, povos originários, mulheres e pessoas LGBTQIA+, principalmente mulheres trans -, encontram emter acesso à justiça social e tratamento com respeito à dignidade humana por parte do Estado brasileiro. Entre os principais elementos do que resta da ditadura, sinalizamos o tratamento violento conferido pelo poder público aos territórios de favela, a dificuldade de proteção contra crimes de ódio endereçados à mulheres e população LGBTQIA+ e a extrema leniência com os avanços exploradores nos territórios preservados dos povos originários. Não sem coincidência, são justamente esses sujeitos que pouco figuram nas narrativas e cartografias da memória e resistência à ditadura. Visando dialogar com a concepção tradicional de resistência à ditadura, que via de regra aponta como sujeitos da luta pela democracia homens organizados em partidos ou coletivos políticos tradicionalmente estruturados, o projeto “Cartografias da memória e resistência” pretende alargar a concepção de resistência, compreendendo que alguns sujeitos históricos carregaram a marca da “subversão” ao regime ditatorial em seus corpos, e foram perseguidos especificamente por essa razão. Partindo da ideia de Maria Inés Mudrovcic, que afirma que “a memória coletiva é uma representação narrativa, ou seja, um relato, que um grupo possui de um passado e, para alguns dos membros que o integram, se estende para além do horizonte da memória individual” (ROCHA, 2014: 38), o projeto de pesquisa pretende reconstruir a narrativa da resistência desses grupos no espaço, a partir de mapas digitais e linhas do tempo, marcando lugares de memória específicos. Para tal, ferramentas como imagineRio, Narrativas do imagineRio e StoryMaps serão mobilizadas. Para que uma memória coletiva não se perca com o tempo e o desmantelamento dos grupos que a carregam consigo, e se transforme em memória histórica, é necessário que se façam registros dela, para que as lembranças sejam eternizadas. Isso não significa apenas registros em documentos escritos, embora sejam considerados comumente os mais confiáveis, mas também em formas materiais inscritas na paisagem. Ou seja, é necessária a materialização da memória em determinados lugares. Por lugares de memória entendemos os espaços onde a memória de um determinado processo histórico se localiza (ou não se localiza, como no caso dos silenciamentos), e que estabelecem relações com o cotidiano da cidade (NORA, 1993). Esses lugares são repletos de significantes cívicos e estão expostos a interesses políticos, e dessa forma extrapolam a sua própria materialidade física espacial. São palco de interação entre passado e presente.Na perspectiva do “urbanismo de memória” (GOLDA-PONGRATZ, 2018) considera-se ainda que os lugares de memória têm enorme potencial educativo (uma das dimensões da Justiça de Transição é o observatório da não-repetição) e de turismo histórico-cultural. Assim, as cartografias da memória representam não apenas um mapeamento, mas um repositório da História e da memória, tendo a cidade como espaço educativo. De acordo com Mauricio Abreu (2012), trabalhar a memória de um lugar demanda da “recuperação simultânea da história no e do lugar”. Isso significa que “cada lugar é, ao mesmo em cada momento histórico, o ponto de interseção de processos sociais que se desenvolvem em diversas escalas”. Enquanto alguns processos são singulares, podendo ser explicados pelas realidades locais, outros necessitam de uma ampla escala de análise, como a do Estado-nação. A forma sincrônica e diacrônica como esses processos se cruzam em determinado lugar é a base fundamental para a recuperação da memória das cidades, e ajudam a compreender os projetos políticos e de sociedade por trás das escolhas de manutenção e patrimonialização de determinados lugares de memória (ou sua total destruição). Longe de acreditar que os Direitos Humanos são a marcha triunfal do progresso, mas cientes de seu papel fundamental em sociedades nas quais o mínimo ético para a preservação da dignidade humana ainda é sistematicamente desrespeitado, este artigo pretende, através de suas representações, contribuir com as Geografias críticas como ferramenta para a justiça social das populações marginalizadas no Brasil contemporâneo.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Novo Ensino Médio; Currículo.
Resumo:
No contexto das recentes mudanças no ensino no Brasil, foi aprovada, por meio de Medida Provisória (MP) convertida em Lei, a Lei nº 13.415/2017, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) brasileira e alterou a etapa do Ensino Médio, última da Educação Básica brasileira. Tal mudança ocorreu na esteira da elaboração e aprovação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e teve fortes impactos no Ensino de Geografia. O currículo do Ensino Médio passou a ter uma redução do chamado “campo comum”, no qual se insere a Geografia – na verdade, amalgamada com outras disciplinas e chamada “Ciências Humanas”. Tal currículo coloca a possibilidade de o estudante escolher por trilhas formativas específicas para aprofundamento. Entretanto, a implantação do Novo Ensino Médio (NEM) tem sido cercada de problemas, entre diversos outros: em muitas redes públicas de ensino, especialmente as de municípios mais pobres, não se consegue ofertar as cinco trilhas previstas (em muitas escolas dificilmente se consegue apenas uma); a implantação do novo currículo foi feita em atitude claramente antidemocrática e usando um meio legal que reduziu as possibilidades de discussão (uma Medida Provisória); o material didático ofertado é claramente inferior ao anteriormente disponibilizado, havendo recorrentes reclamações da mutilação de temas importantes, em prol de uma formação fragilizada. Para além das questões acima apontadas, há uma clara filiação do novo currículo a perspectivas neoliberais em educação, o que, em uma perspectiva mais ampla, empobrece a formação discente e aumenta as desigualdades da formação básica no Brasil, entre ensino público e privado.
Em tal contexto, o ensino de Geografia e os professores de Geografia tem se visto na posição de criticar o modelo de ensino que vem sendo implantado na educação nacional. O NEM propugna, com base na BNCC, pelo ensino de Geografia a partir de um conceito proposto no debate acadêmico, a ideia do raciocínio geográfico, sendo função dos docentes ensinar os alunos a “pensar geograficamente”. Por outro lado, há um evidente empobrecimento do trabalho dos temas e do estudo em Geografia no Ensino Médio. O papel de crítica vem, para além do quadro geral do ensino no Brasil, a partir das ferramentas fornecidas pela tradição da Geografia Crítica brasileira. Corrente essencial na formulação e evolução do pensamento geográfico nacional, tal perspectiva sempre foi base de muitas das críticas às formas de ensinar Geografia no Brasil, com críticas tanto às práticas pedagógicas quanto ao currículo. No momento de encruzilhada imposto pelo NEM, esses dois aspectos reaparecem como temas essenciais de discussão, em especial o segundo. Daí se pode questionar: qual o papel da Geografia Crítica enquanto corrente de pensamento em Geografia, na crítica e na busca por outra prática em relação ao Novo Ensino Médio no Brasil?
A tradição da Geografia Crítica no Brasil remonta às décadas de 1970 e 1980, sendo os trabalhos de Milton Santos essenciais em tal perspectiva. Santos rejeita a ideia de uma organização do espaço e uma ontologia dessa categoria como mero suporte da organização da sociedade, propondo uma relação dialética, compreendendo sua composição a partir de um sistema de objetos e um sistema de ações (SANTOS, 1978; 1996). Sua crítica se expande ainda ao modelo de globalização produzido, no qual há uma prevalência da finança, com a criação ainda de uma forma fictícia de se ver tal processo, a globalização “como fábula” (SANTOS, 2000). A partir de tal tradição, pode-se iniciar uma crítica à forma de ensino tradicional da Geografia no Brasil, realizada, inicialmente, a partir de estudos meramente descritivos do espaço nacional e internacional, propugnando um modelo enciclopédico de ensino (MOREIRA, 2014). Há uma forte influência dessa corrente de pensamento nos temas ensinados em Geografia e na produção do material didático a partir dos anos 1980, sendo corrente uma perspectiva crítica acerca da produção do espaço e suas múltiplas contradições. Tal tradição se mostrou sempre presente (e até dominante, pode-se dizer) nos materiais didáticos e no currículo trabalhado no Ensino Médio, assumindo a Geografia um papel essencial na formação humana e cidadã dos alunos.
Entretanto, desde a aprovação da mencionada legislação, iniciou-se um amplo processo de revisão de currículos e de produção de novos materiais didáticos. Novamente, urge apontar que tais mudanças ocorrem na esteira do golpe legislativo de 2016 no Brasil, seguido da eleição do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. O NEM é claramente a tradução e implantação dos valores neoliberais na educação, aprovado sob a justificativa da necessidade de preparação de mão de obra para o mercado de trabalho, alinhado às novas demandas desse último. Sua repercussão nos currículos deu-se a partir do uso de uma perspectiva em ensino de Geografia, o “raciocínio geográfico” que visa valorizar as categorias e o método de pensamento geográfico, que, porém, parece claramente apropriado pela BNCC sem um maior aprofundamento do que seriam essas categorias e como elas poderiam ser operacionalizadas (o que, claramente, aponta para a discussão da carga horária da disciplina nos cursos). Isso levou ainda à produção de material didático no qual tais conceitos e categorias aparecem de forma claramente mutilada, sem sua devida riqueza explorada e exercida, legando o ensino de Geografia a um papel periférico na formação do alunado.
A partir da eleição de Lula da Silva, em 2022, tem aumentado as pressões em torno da revogação do NEM, sendo apontadas suas muitas contradições e a forma como foi aprovado. Nesse contexto, é possível reafirmar o papel da Geografia Crítica como ferramenta essencial de crítica e ação contra o modelo de ensino imposto pelo NEM, na perspectiva do currículo e do material didático produzido, buscando reafirmar o papel da Geografia na efetiva formação dos alunos, para que compreendam e analisem as contradições da produção do espaço e possam nele realizar outras práticas.