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PALAVRAS- CHAVES: geografia, arte, didática, Goethe.
RESUMO A geografia, enquanto ciência moderna, vem seguindo tendências que dialogam com a nossa época e sociedade. Sabemos que a ruptura entre arte e ciência, bem como racional e irracional, objetivo e subjetivo, corpo e mente, natureza e ser humano, pressupostos difundidos pela ciência cartesiana, muito influenciaram a institucionalização da ciência geográfica. Contudo, tais dicotomias antagônicas e estabelecidas hierarquicamente, já não respondem mais às crises socioculturais e ambientais vivenciadas por nós. Por isso, pesquisadoras e pesquisadores da geografia têm buscado estabelecer relações entre essas esferas, que já não podem ser compreendidas isoladamente. Isso abre diversos caminhos para a discussão e prática geográfica. Dentre essas possibilidades iremos nos debruçar sobre a importância de aproximar o ensino de geografia às artes, não somente nas escolas, mas na formação de professoras e professores. Para estabelecer essa conexão pretendemos relacionar a ideia de pensamento geográfico com processo artístico. Pois entendemos que as artes podem expressar de outras formas aquilo que a ciência visa explicar. Mas não podemos reduzir as artes a mera explicação dos fenômenos, porque as linguagens artísticas tocam em outros âmbitos dos seres humanos que não somente o racional e objetivo. Em muitos casos, nas salas de aulas, vemos as artes sendo trazidas prontas, em forma de filmes, imagens, história em quadrinhos, música e etc. O mesmo pode ser verificado nas pesquisas que visam estudar os diferentes campos artísticos a partir de um olhar geográfico, porém não superam as “fronteiras da geografia” de que fala Wright (1947), deixando de perceber que o conhecimento geográfico já está expresso na literatura e outras manifestações artísticas, ou seja, não é, apenas, ilustrado por elas. Porém, nos casos em que essa superação ocorre, o debate tem contribuído para a geografia ampliar sua visão interdisciplinar e, no âmbito escolar, auxiliado os estudantes no processo de ensino e aprendizagem, como vem sendo mostrado em pesquisas recentes. Nesta chave surgem outros caminhos para trazer as artes para nossas aulas: fazendo arte. Cumpre destacar, previamente que, a complexidade de definição do que é arte pode gerar polêmicas, porém não pretendemos cair nesta seara, mas sim pensar a arte enquanto um processo criativo que pode auxiliar no pensar geográfico. Partilhamos com a ideia de Pimentel (2015) ao afirmar que o processo artístico está imbuído de construção de conhecimento e diretamente ligado com a experiência. Às ideias da autora acrescentamos que o desenvolvimento do pensar geográfico também está, o que instaura possibilidades de diálogos e de um processo artístico sobre o pensar geográfico. Esse pensar pode ser concebido a partir da definição de Larossa (2002, p. 21), que o compreende não somente ligado ao raciocinar, mas o que dá “[...] sentido ao que somos e ao que nos acontece”. Sendo assim, por meio das artes as dicotomias citadas anteriormente tendem a serem tensionadas, pois nas artes o racional e o subjetivo são dissociáveis. Além disso, todo nosso corpo é ativado no processo artístico e não somente a cabeça, membro tão focado em nossas escolas e universidades. Isso contribui para a experiência, e aí mais uma vez utilizamos Larossa (2002), para nos lembrar que as experiências estão cada vez mais raras em nossas vidas, pois elas não são o que se passa, mas o que nos passa, ou seja, é intrínseca à relação entre o sujeito e o experimentado. Goethe (2010) já apontava para a importância de estabelecer as relações entre o sujeito e o experimento, a partir da observação consciente e atenta dos fenômenos. Para ele, os fenômenos se manifestavam de diversas maneiras, por isso era necessário nos abrirmos para experenciá-los em suas diferentes expressões. Com isso, o processo de estudo destes fenômenos não era algo acabado, mas sim um fazer continuo, que podemos associar ao processo artístico. Ademais destaca se a importância que Goethe deu as artes, por sua compreensão de infinitude e metamorfoses, demonstrada nos fenômenos e também na interpretação deles. Acreditamos que as ideias aqui expostas podem proporcionar a tessitura de tramas que possibilitem o (re)estabelecimento do pensar geográfico enquanto um processo artístico. Partir da ideia de processo nos faz remeter a algo dinâmico em que a atuação da(o) pesquisadora (o) se torna intrínseca ao fenômeno estudado. Para isso valoramos o papel da experiência, pois esta abre caminhos para a investigação, possibilitando a ênfase não somente no racional e no visível. Além de permitir que o experimentado seja expresso em outras linguagens que não somente a científica acadêmica. Em síntese esse trabalho visa por meio da relação entre o pensar geográfico e processo artístico propor diálogos entre esses campos do saber e consequentemente partilhar propostas pedagógicas-didáticas que têm sido realizadas a partir desses ideais na formação de futuras (os) professoras (es) de geografia.
GOETHE, Johann Wolfgang von. The experiment as mediator of object and subject. In: In Context, New York, p. 19-23, Fall, 2010.
LARROSA BONDÍA, Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, jan/fev/mar/abr 2002, n.19, p.20-28.
PIMENTEL, LÚCIA GOUVÊA. Processos artísticos como metodologia de pesquisa. Revista Ouvirouver, Uberlândia v. 11 n. 1 p. 88-98 jan.|jun. 2015.
WRIGHT, John K. Terrae incognitae: the place of the imagination in Geography. Annals of the Association of American Geographers, v.37, p.01-15, 1947.
Palavras-chave: educação; mulheres indígenas; literatura brasileira; cartografias.
Resumo: Este resumo trata de uma pesquisa em andamento, de modo que há objetivos, intenções, afetos, encontros, descobertas, referenciais teóricos, caminhos de lutas, métodos e cartografias ainda em experimentação. Como o título e as palavras-chave indicam, o presente trabalho busca articular estratégias entre a geografia e a literatura das mulheres indígenas de todo território brasileiro (dentro do recorte temporal de 1989 a 2020), com a finalidade de somar um passo a mais no rompimento de séculos de educação colonial. Como explica Julie S. Dorrico Peres (2015), às sabedorias indígenas, tradicionalmente passadas de geração em geração através da oralidade, da dança, da pintura (entre tantas outras formas de expressão), vem ganhando corpo escrito e construindo seu espaço na literatura brasileira. Este movimento tem se intensificado nas últimas três décadas e hoje tensiona o campo epistemológico, pluriversalisando outros modos de ver e viver no espaço, de estabelecer relações e relacionamentos com os seres humanos e não humanos que constroem o mesmo. Neste sentido e partindo do pensamento espacial de Doreen Massey (2009), entendendo que narrativas e linguagens criam imaginações geográficas, a intenção desta pesquisa é investigar ao menos uma parcela deste movimento literário. Entender, mapear e cartografar o que as mulheres indígenas estão pensando e expressando através de sua arte escrita em língua portuguesa, quais caminhos percorrem pelas linhas de seus poemas, contos, o que as personagens presentes nessas obras contam a respeito das epistemologias e ciências de seus povos, e o que isso tem (e pode ter) a ver com a educação geográfica é o que pretendo descobrir com esta pesquisa. O que afeta essas autoras, ocupa e transborda pelas imagens e linguagens de suas obras? Nos encontros com pensadoras/es indígenas que participo, fica evidente que as narrativas originárias encantam quem a elas têm acesso. Onde na emergência de epistemologias ancestrais é possível realmente descobrir o Brasil. Descobri-lo da ignorância sobre si mesmo e do preconceito que gera a violência contra os povos originários deste vasto território. Descobrir cosmologias, filosofias, espiritualidades, geografias, línguas, modos de 1 Mestranda em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Contato: melissafcarpes@gmail.com habitar cidades e florestas que foram e ainda são negadas pelo racismo estrutural que permeia todas as esferas da vida. Como dito anteriormente, a ideia central proposta por esta pesquisa é adentrar o movimento da literatura indígena brasileira escrita por mulheres e mapeá-lo, procurando na linguagem as pistas das origens, dos sonhos, desejos, necessidades e forças atuantes nestes corpos-territórios textuais. Que juntos formam uma teia, uma rede de cosmopercepções em luta frente à invisibilização, epistemicídio (Santos, 2009) e genocídio sofrido há cinco séculos por esses povos. Os objetivos da pesquisa aqui resumida são: mapear as obras publicadas dentro do recorte temporal proposto; entender quem são as autoras dessas obras a partir de sua origem étnica, territorial e literária; analisar na produção das obras publicadas pelas autoras encontradas, quais os eixos temáticos, elementos e linguagens que constituem suas cosmopercepções sobre o espaço; por fim, debater sobre como e onde a produção literária estudada cruza, dialoga ou pode dialogar com a educação geográfica. Quanto aos procedimentos metodológicos, é importante ressaltar que neste estudo a cartografia não é apenas o resultado gráfico de elementos organizados em categorias e distribuídos espacialmente em um determinado território, ela é pensada como um método de pesquisa. A partir dos ensinamentos de Laura Pozzana e Virgínia Kastrup (2009), a cartografia aqui serve para acompanhar processos, para interação entre pesquisa-pesquisadora. Ou seja, cartografar para visualizar outros mundos e de outras maneiras, para estabelecer novas possibilidades de diálogo com as obras e posteriormente com a educação geográfica. Por fim, é importante apontar que os cruzamentos que proponho investigar entre literatura indígena e educação geográfica estão pautados na Lei no 11.645/2008, que determina que os “conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar” (BRASIL, 2008), sendo obrigatórios do ensino fundamental ao médio. Tal lei não prevê como, nem cita a necessidade desses conteúdos estarem presentes na formação dos cursos de licenciatura das universidades brasileiras. Ou seja, é necessário que os próprios estudantes e professores se organizem e lutem para implementar essas disciplinas nas grades curriculares dos cursos superiores, para que então esses conhecimentos cheguem de fato às salas de aula. E de novo, esbarramos no racismo estrutural, são incontáveis obstáculos. De modo que é necessário agir nas brechas e margens dos sistemas, aprendendo os caminhos dessas conexões com as pedagogias dos povos originários, fomentando a leitura de autoras/es indígenas. E, se possível, criar conexões que viabilizem a didática dessa temática em sala de aula.
Lista de referências
BARROS, L. P. de; KASTRUP, V. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. da. (orgs). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividades. Vol. 1. Porto Alegre, Sulina, 2009.
BRASIL. Lei 11.645/2008. Brasília, MEC, 2008.
MASSEY, Doreen. Pelo espaço: Uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
PERES, Julie Stefane Dorrico. Autoria e performance nas narrativas míticas indígenas Amondawa. Porto Velho, Rondônia, 2015. 97f. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) Fundação Universidade Federal de Rondônia / UNIR.
SANTOS, Boaventura Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, B. S (Org.); MENESES, Maria Paulo (Org.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina SA, 2009. p.23-71.
Admitimos que, em seu conjunto, a paisagem se inscreve esteticamente, contendo em si, como um holograma, as distintas obras de arte e as sensações correspondentes que animam a relação entre as partes e o todo, entre os entornos e os sujeitos. De saída, o que está em jogo é a coimplicação entre estética paisagística e expressão artística dos lugares. Nessa recíproca constituição entre arte e realidade, a paisagem resplandece em sua identidade como obra de arte, aguçando a investida interpretativa sobre a intencionalidade da estética urbana. Tal aguçamento se explica por duas razões. A primeira delas remete-se à condição mesma da paisagem como obra de arte, ilustrada pelo caso específico do grafite. A segunda razão remete-se à intencionalidade da estética urbana que vincula, então, paisagem e discurso. Nessa vinculação, as imagens inscritas no cotidiano da cidade se materializam como campo paisagístico e a geografia se presta a decifrar a semiologia da paisagem, no âmbito de uma “radicalização contemporânea do espaço como campo sígnico”, segundo Ruy Moreira. Assim, semiótica, estética e discurso impõem-se como elementos vinculantes à paisagem, tramando “uma intriga particular”, como alerta Isaac Joseph, capaz de suscitar o interesse pelo desvendamento das intencionalidades intrínsecas à construção dos lugares. Por seu turno, essa trama intrigante nos reporta às lutas pelo direito à cidade e à cidadania, mais especificamente pelo direito à autonomia simbólica instauradora de utopias necessárias e de suas agendas propositivas. Decerto, o que propomos aqui é um conhecimento especializado a partir da análise e da interpretação de paisagens visuais. Contudo, o esforço se dirige mais à identificação de contextos éticos e estéticos autônomos do que à definição de uma gramática normatizadora da paisagem urbana. Apresentamos, com efeito, uma proposta de método para essa análise e interpretação da paisagem visual. Entedemos que os espaços lisos dos muros e paredes tornam-se espaços fibrados e filtrados pelas imagens poéticas do grafite. Paredes e muros em branco convertem-se em telas artísticas. Reconfigura-se, assim, a textura sensível da paisagem visual à espera de sua decifração. Nosso esforço incide, por conseguinte, menos na descrição da forma em si mesma e mais no reconhecimento do processo criativo da arte urbana do grafite com os legítimos sujeitos plenamente implicados e as relações socioespaciais que ensejam. Logo, nossa perspectiva é flagrantemente a de uma geografia contextual, processual e relacional aplicada à arte pública do grafite urbano. No feixe de relações implicado no processo criativo da arte urbana está, seguramente, a interface entre o prosaico e o poético, nos termos definidos por Edgar Morin. Ele nos cobra atenção à “qualidade poética da vida”, na qual prosa e poesia constituem polaridades complementares da existência. Pode-se afirmar que a arte urbana incorpora e expressa essa qualidade poética, ou mais profundamente, que ela encerra em si mesma um ato poético. Poderíamos até afirmar que as expressões artísticas inscritas na paisagem representariam “resistências poéticas” da sociedade civil à prosa do mundo, diz Morin. Em síntese, o que destacamos aqui é o anel recursivo pelo qual o espaço poético da imagem conduz à paisagem urbana forjada pela imagem poética e vice-versa. A coimplicação entre ação artística, emoção estética e ato poético justifica as reflexões desse ensaio sobre a arte pública, no exemplo do grafite do espaço urbano. Acatamos, irrestritivamente, que as imagens poéticas do grafite são portadoras de discursos – o discurso da paisagem – e que nos permitem conhecer novas mensagens e afirmações de mensagens das pulsações históricas, nos colocam frente a frente com projetos identitários. Nos encaminhamos, assim, para uma geografia emocional que ressalte os valores éticos e estéticos constitutivos da produção das paisagens visuais urbanas. Uma agenda antirracista pode, então, ser identificada nos grafites da Cidade do Rio de Janeiro. A autorrepresentação simbólica de negras/as como paisgem visual é o cerne dessa agenda. A identificação de tal agenda societal, associada a uma galeria de grafites selecionados, resulta da aplicação do método que cogitamos bem como encerra a possibilidade de investigação e ensino de geografia comprometidos com a formação de cidadãos/ãs conscientes e atuantes.
Palavras-chave: Paisagem visual; Grafite urbano; Antirracismo; Autorrepresentação simbólica; Geografia Emocional.
Palavras-chave: Espaço Travessia, luta antimanicomial, arte, Rio de Janeiro, geografia.
Resumo: Todo dia 18 de maio, desde 1987, quando foi realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental no Brasil, é celebrado o dia da luta antimanicomial. O país lutava. Em um processo de redemocratização o direito de votar reunia desejos e anseios, o congresso reunia-se para elaborar uma nova Constituição e diversos grupos sociais articulavam-se para conquistar direitos. “Por uma sociedade sem manicômios” surgia como lema de uma luta que já era travada há algumas décadas e permaneceria por mais longos anos, tendo em vista que o processo de desinstitucionalização culminou no fechamento de hospitais psiquiatricos ainda nos moldes manicomiais apenas bem recentemente, até 2022 no Rio de Janeiro. Entendemos a “manicomialidade” como uma lógica estruturante em nossa sociedade, que transcende às práticas de encarceramento e privação de liberdade de indivíduos, muitas vezes submetidos a outras violências institucionais, mas ligada também a contenção dos corpos, controle das emoções, padronização da vida. O geografo Lucas Honorato nos ajuda a pensar essa lógica, como uma “estratégia espacial de neutralização da ferocidade dessa diferença radical e dessa diversidade”. Para tratar da luta antimanicomial e sua face de resistência através da coletividade e da criatividade, traremos o Espaço Travessia para pensar possibilidades de luta através da arte. Neste contexto, toda a urgência e o horizonte para caminhar em relação à antimanicomialidade se somam a outras frentes de ação e a refuncionalização do espaço se mostra como processo, marcado pela coletividade nas ocupações. Hoje configurando-se como espaço cultural-artístico, o Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde/EspaçoTravessia ocupa dois andares de enfermarias desativadas do antigo Hospital Psiquiátrico Pedro II, atualmente constituindo o Instituto Municipal Nise da Silveira, localizado no Engenho de Dentro, bairro do suburbio do Rio de Janeiro. Em processo de refuncionalização, o Travessia tem uma coordenação e curadoria próprias, exercidas pelo artista e fotografo Marcelo Valle, e embora fazendo parte de arranjos institucionais, abriga projetos e iniciativas com alto grau de autonomia propositiva. Despontando como pólo artístico-cultural da Zona Norte, este espaço pretende contribuir como possibilidade desconcentrar as iniciativas e atividades de arte e cultura para além do tradicional eixo Centro-Zona Sul do Rio de Janeiro. Atualmente representa um ponto de encontro e lugar de realização de experimentos e ocupações de artistas, educadores e coletivos, das mais diversas origens, atuações e trajetórias. O passado, inclusive recente, ainda percebidos nas paredes de antigas baias, enfermarias e depois espaços que materializam a manicomialidade nas dependências do tradicional hospício no bairro suburbano fluminense do Engenho de Dentro contrasta com a negação desta lógica. As marcas que resguardam traços das paisagens frias e silenciadas de outrora, são reapropriadas ao serem grafadas com cores e gritos que ocupam o espaço. As memórias, os traumas, o sofrimento vivido por antigos pacientes não se pretendem apagar, o contexto que envolve o Travessia é o que o faz potente e convergente para uma perspectiva criativa, que conjuga o engajamento político e a permanência da ocupação (em contraposição à lógica de uma exposição, efêmera, focada na exibição de obras, para um público externo que toma contato, se afeta, mas logo se desvincula daquele centro cultural), sem deixar assentar-se no imobilismo, tão preocupante se tratando deste lugar. O movimento é a tônica, e a travessia sugerida no nome soa como um convite aberto para experimentar o espaço e produzi-lo frequentando, propondo, intervindo, ocupando, sempre em permanente construção, a partir dos afetos. A ideia de um espaço de pertencimento, repleto de valor simbólico, o lugar do vínculo, das relações afetivas e do acolhimento, contrastam com o histórico segregado, controlado e privado de liberdade, vide a porta remanescente do período recente que ainda abrigava pacientes internos da psiquiatria, agora reapropriada, incorporada na paisagem artística. É possível observar uma intervenção que subverte o sentido da advertência do escrito original de uma placa aplicada à porta para: “ATENÇÃO: aqui somente pessoas DESautorizadas”, na interface de transformação do espaço via intervenções estético-políticas. Nesse complexo jogo de significados e subjetividades, a memória do hospício resiste por toda parte, mas partindo dela, as intencionalidades de um espaço produzido a partir de relações menos traumáticas, que transformem o histórico de sofrimento, as relações de poder assimétricas e lógicas violentas de dependência sujeição em novas redes de colaboração, apoio, criatividade e fazer conjunto numa perspectiva horizontal, que aponte para um caminho de grandes transformações, revoluções nas escalas próximas, de corpos se encontrando no espaço e expandindo possibilidades.
Una de las cuestiones que más afecta el avance de los estudiantes en el ámbito escolar son los estados de ánimo, en parte porque los grupos atendidos están en la adolescencia, etapa en que confluyen muchos cambios, tanto físicos como socioeconómicos, por un lado, sus cuerpos se transforman y por otro deben tomar decisiones que repercutirán en su vida adulta; ¿continuarán estudiando? ¿trabajarán? ¿Se independizarán? Aunado a los problemas derivados del estado neoliberal que ofrecen pocas esperanzas de un futuro estable y una crisis ambiental sin precedentes que exige un cambio de actitudes de manera colectiva. En este contexto de incertidumbre, se ha notado que después de la pandemia los jóvenes no tienen un proyecto de vida, son impacientes, explosivos, algunas veces agresivos, descorteses, intolerantes, no participan, son más introvertidos, con poca tolerancia a la frustración. Por tanto, no suelen involucrarse en los debates y reflexiones en el aula, bajo ese escenario es imposible abstraerse de todas estas emociones que además en nada ayuda a poder reflexionar en los problemas que genera el sistema capitalista. La propuesta que se comparte trata de identificar las emociones a través de los paisajes para lograr un vínculo pedagógico propicio para el aprendizaje, que, si bien se plantea para un ambiente educativo formal, puede llevarse a otros espacios pedagógicos, porque favorece la comunidad, la empática, la fortaleza y resiliencia. Cada estudiante al seleccionar un paisaje está teniendo un vínculo ya sea por apego al lugar de manera positiva o negativa (De Backer, 2022) El paisaje les evoca calma por las tonalidades azules que se destacan o se pueden identificar con el caos de lo cultivos de arroz, en que las tonalidades son diversas. Pensar desde la geografía de las emociones en una intervención de trabajo a una escala próxima, deviene en el cuerpo, porque también este es el que se afecta cuando no existe una salud emocional. Pero va contra toda lógica capitalista de tiempo es oro, de la competencia en el aula y de lo individual sobre lo colectivo. Dedicar un tiempo a revisar las emociones se pone en el centro los afectos, nuestros cuerpos, la manera en que podemos contener ante la vida caótica que nos toca. Y sobre todo reivindica la emoción ante la razón, somete a los “hombres” a una rebeldía contra el constructo de género de no expresar sus sentimientos. De hecho, el gran reto que se plantea es el autoconocimiento, muchas veces no saben expresar con cuál de las emociones se identifican, para ello se les proporciona un cuadro para que puedan tener opciones. Como docentes, es un trabajo en el que se requiere escuchar y pensar en los estudiantes como personas y no un número más en la lista. Gracias a esa actividad logramos una catarsis colectiva tras los problemas que abruman a muchos, fortalecemos el autocuidado que debe tener cada uno y después de la actividad se crea un vínculo pedagógico que puede perdurar hasta le fin del curso si se continúa teniendo esa relación afectiva y respetuosa con los estudiantes.
bell hooks, (2021). Enseñar para transgredir. La educación como práctica de la libertad. Capitán Swing. Madrid España
De Backer, M. (2022). Between place and territory: Young people's emotional geographies of security and insecurity in Brussels' deprived areas, Emotion, Space and Society, 45. https://doi.org/10.1016/j.emospa.2022.100911.
¿Cuáles son los conocimientos que llegan y se validan en los espacios gubernamentales y de las políticas públicas? ¿Cuáles son las imaginaciones geográficas creadas en torno a los agronegocios? ¿Qué provocan? ¿Qué sucede con los conocimientos que se construyen en y desde procesos colaborativos, con la gente, desde las luchas y resistencias? ¿Cuáles son las imaginaciones geográficas creadas en relación a las luchas de los pueblos y comunidades fumigadas? ¿Qué transformaciones provocan, en la sociedad en particular y en los poderes públicos en general, los conocimientos colaborativos que nacen en los espacios de r-existencia? ¿Cuáles son sus recorridos, diálogos, tensiones, negociaciones? ¿Cómo y desde dónde son compartidos? ¿Qué metodologías nos permiten reinventarnos como investigadoras y ser parte de los diálogos? ¿Cómo coproducimos conocimiento sin anular al otrx y dando lugar a nuestra voz? Movilizadas constantemente por estos interrogantes, en este trabajo proponemos realizar un acercamiento al análisis de los imaginarios geográficos construidos a partir del agronegocio y aquellos que se gestan desde los espacios de lucha y r-existencia. Para ello reflexionaremos a partir de un mapeo colectivo realizado en el dispensario de barrio Ituzaingó Anexo de la ciudad de Córdoba (Argentina), que visibiliza lugares de lucha y, a la vez, lo que provocan las fumigaciones con agrotóxicos. Dicho mapeo fue realizado junto con el Grupo de Madres de Ituzaingó Anexo, una médica y estudiantes de Geografía durante el 2022. Intervenciones poéticas y políticas como metodología de cartografías disruptivas Mapa digitalizado por Florencia Colque, imagen elaborada por Fernanda Salinas. En el trabajo que proponemos, recuperamos la crítica que Paniagua (2006) realiza a los “acercamientos éticos” que en la década del ‘90 empieza a ocupar el “nuevo temario de la Geografía Rural”. El autor sostiene que estos acercamientos teóricos responden a rechazos al proceso de globalización, que buscan generar lo que Massey (1999) denomina imaginario de la globalización. Bajo este concepto y sus implicancias en las prácticas, se procede la imposición de una única forma de organizar y conceptualizar el espacio vinculada al progreso y la modernidad, negando la existencia de otras trayectorias, otros ritmos y, sobre todo, otras formas de habitar. En vinculación a ello, reconocemos importante reflexionar acerca de la definición de sujeto geográfico, como una invitación a situarnos espacial y temporalmente, en las búsquedas por construir territorios de resistencia y r-existencia. En este sentido, recuperamos las reflexiones que se dan desde la Geografía de género (Ferré y Serrá 2006), para escribir desde nuestros lugares de mujeres-geógrafas-citadinas-rurales, con formas propias de relacionarnos con los lugares desde el género con el que nos identificamos, desde las propias trayectorias y las afectividades que nos atraviesan y que se co crean como parte del devenir que sucede al articularse y trabajar colaborativamente con otrxs y posibilitar un nosotrxs. Sostenemos que es importante incluir la teoría feminista como proyecto con interés político, incorporando las críticas al sistema que genera las relaciones desiguales de poder (McDowell 2000) y con un interés pedagógico en relación a las maneras de conocer, aprender y crear conocimientos. Consideramos que la caza de brujas cambió las relaciones de producción y reproducción social (Federici, 2004), provocando el empobrecimiento masivo de mujeres (Ferré y Serrá 2006) y la descalificación de sus conocimientos, cuestión que se visibiliza en la multiplicidad de situaciones donde las voces de mujeres son desvalorizadas y/o desestimadas cuando expresan reclamos, necesidades y situaciones que atraviesan. Y, que se potencia cuando son mujeres que migran del campo a la ciudad, como es el caso de algunas de las integrantes del Grupo de Madres del barrio Ituzaingó Anexo. De este modo, buscamos poner en diálogo reflexiones teóricas y las afectividades que nos atraviesan y que hacemos propias, con la práctica del hacer en común, de un hacer geográfico que apuesta a ser disruptivo y comprometido políticamente con quienes resisten y luchan contra los engranajes del sistema capitalista-colonial-patriarcal y devastador de la vida . Para ello nos acercamos a la noción de imaginación geográfica, ya que nos permite entender cómo las nociones de espacio y tiempo conviven y entran en conflicto, a las vez que (re)crean espacios y tiempos. En este sentido, observamos cómo entran en conflicto los imaginarios del agronegocio y el desarrollo inmobiliario -idearios culturales de las elites locales buscando organizar los territorios para su ganancia- con los imaginarios de formas de vida alejadas, de visitas cotidianas a hospitales, donde en los campos fumigados “no haya nada y de cuenta del vacío que nos dejaron (Vita)”.